sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Desfecho para o começo real

...subjetividade para a vida.

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Sonho de morte, realidade de vida


O que me faz merecedora do que tenho se o que desejo é o que me corrompe? Vivo de ilusões , sou etérea, desapareço na multidão. Logo após,  desvio  seu olhar, procuro outro enigma, este, indecifrável: o meu inconsciente. Lá, sorrateiro, em leves movimentos, toma proporções monstruosas  em meu corpo. E vejo que sim, mais uma vez estou com a ferida aberta, os olhos manchados e um copo meio vazio, inquerindo sobre o próximo enredo de uma mentira inventada pela realidade que vivi. Diante dos meus olhos criei uma personagem que se destacou além mar do que eu quisera ser. Criei uma montagem de cacos que encontrei pelo assoalho da casa fria em que cresci com tanto amor, longe de tudo, longe do que eu poderia me tornar. Sou o espetáculo sem plateia, viva de acordo com meu narcisismo. Extremo norte, extremo sul. Estou feliz por ser aceita, por gostarem do que digo e ser amada. Estou infeliz por recusarem um pedido, não me amarem como eu gostaria, não me darem o que eu preciso. Estou feliz com os sins e infeliz com os nãos. Sou o limite do sem limite. O presente que por anos ganhei sem merecer, o sorriso que morreu entre o canto dos lábios há tanto tempo. Desejo o desejo, e não a realidade do desejar. Vivo a fantasia de uma realidade criada para o meu conforto, onde não há sofrimento ou dificuldades. E dentro da realidade paralela que me estagna, sou vendada para felicidade. Sentir, o que será? O mal e o bem inexistem. A dor e a ausência de dor são insignificantes. A tristeza e a felicidade tornaram-se palavras e rumos a se perquirir. Ainda tenho  5 anos, ainda sou a mesma criança que cresceu sem pai e não vivenciou as limitações necessárias para que uma criança se torne um adolescente consciente e um adulto coerente com suas capacidades e incapacidades. Construo vagarosamente a minha subjetividade que se perdeu em um emaranhado de conflitos familiares, lutos e tempo perdido. Sei que o sonho existe. Sei que ele está lá. Mas ele não é para mim. O sonho é um estado momentâneo e não um reduto para se distanciar de si. Quando busquei ajuda nos sonhos o que consegui foi viver em castelos de areia que, mesmo prontos, desmoronavam quando eu tentava entrar neles. A realidade não cabe dentro da ilusão. Ela é demasiadamente grande para tanto.  

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Dor psíquica, dor somática


Toda dor, seja ela física ou psíquica,  pode nos levar a dois caminhos: ao conhecimento do que nos faz sofrer  ou a resignação por um auto engano.

sábado, 26 de novembro de 2011

Tudo (vazio) nada

A sua nota no jornal não saiu, as pessoas continuaram e você ficou. Estática. Só um tempo para acalmar os anseios. Perdida na multidão, vista por muitos, esquecida por tantos. Seu rosto era algo como a sombra e a luz, se permitia alguns sorrisos e outros prantos. Era algo como a sutileza ao desfolhar suas pétalas, o dia sem diálogos, a chuva interior.
Sua sorte escolheu ao vestir cinza, namorar o desejo de viver um grande amor, viver. Tinha medo de viver. Escondida entre os lençóis, atrás da porta, da maquiagem, do tempo e do mundo; medo. Talvez a felicidade a incomodasse. Talvez a alegria trouxesse emoções desconhecidas. Entre seus cabelos escuros encostava suas longas angústias, não amava. Seus textos eram desencontrados, as ideias; confusas. Buscava o inatingível, para antigir e se prostrar. Tinha as mãos para as artes e um dom para a tristeza. Solitária, vagava entre mundos nunca vividos, sonhos despedaçados, uma eternidade colorida de negro.
As notas ressoavam com sua voz forte em seu corpo frágil, indagado e indagador. Ao contar as lembranças, ficava sem palavras. Sua vida se perdia em um caderno sem linhas, entre linhas, nas entrelinhas. Deixava-se levar e sofria. Havia adquirido gosto pelo sofrimento, uma necessidade de morte iminente. E isto a levava a crer que poderia ser quem quisesse. Hoje. Amanhã era o destilado álcool, a lúcida melancolia.
Foi feliz. Por segundos, foi feliz. Olhou sua imagem entre nuvens, entre a dor que carregava. Foi feliz. Por um momento, acreditou no amor, na vida, nas promessas. E então caiu de sua estante. Morta não estava. Sentia a vida que é morte. Cada célula.
Com seus atributos, ninguém lhe sorriu. Entre o tudo e o nada, o vazio.

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

E os pensamentos...

Deixou o livro na cabeceira da cama enquanto os sons noturnos sobrevoavam sua mente entorpecida de pensamentos. Lembrou de trechos que havia lido e socorreu uma lágrima do seu peito, antes que pudesse pensar em esquecer o rosto que se escondia em seu mundo com luzes mais que acesas. Em seu leito proferiu palavras reconfortantes ‘somente uma ilusão’, ‘esquecerei em pouco tempo’, ‘sou forte para sentimentos’ e obteve o sopro da verdade que latejava há tempos em seu corpo; viva de lembranças, dormiu ao seu esquecimento.
Conforme seus lábios contornavam o seco batom, o espelho refletia a rudeza em movimentos sofridos. ‘Ei de merecer, sofrer, onde viverei, estou em um mundo de pranto, encontro o vento e ele não me retorna, sou a promessa destinada a não ser cumprida, olho longe e não enxergo a imensidão, desenho caminhos e eles se apagam. Tinta guache, aquarela, pastel, óleo sobre tela. Deixaste o sonho marcado em tela, música ressonante, vida insípida, poder insignificante, pensamento envelhecido, mentiras diversas, estou em um trem descarrilhado, almoço o mesmo que janto, ao som dos ossos quebro o vestido, emendo o estilhaço, espaço cheio dentro do meu vazio, incompletude, onde estarei?Morta talvez. Sem tom grito alto sem ser ouvida, crio um mundo em que somente a tinta acredita. E meus borrões. Borrões que me levam ao extremo sul, extremo do que não se apaga, a sua luz brilha em meu estômago fraco e quero acordar para o mal estar. Bem que foi o mal entendido, o possuir sem tomar parte, a velha guarda tocando marchinhas de carnaval para os meus olhos de columbina negra. Você pode me ouvir? Falo frases desconexas, vivo o semblante deslumbrado, que desvario, sou a loucura mais incômoda. A que não encontra as meias para os seus pés frios durante o inverno, provocadora, inquisidora,má e desoladora. A lucidez que passou distante, enfileirou-se em uma velha estante. Consegue compreender tamanho desvario?’
Voltava aos gatos, aos bordados, ao seu lugar comum. Com tanto para viver, vivia de lugares comuns. Sua praça escondia seus medos, seus compromissos; adiava. Retomou o livro e leu novas páginas. Como se nada pudesse, refletiu. Suas têmporas pediram o sono, acordara há pouco e sem mais desejava estar em uma realidade paralela. ‘Para viver a minha essência que é de sonho, de vida e de azar. De poder ser o inconcebível em uma sociedade desvinculada de censura. Abrir os braços ante o mundo e esquecer os problemas que convém aos políticos, amadores, miseráveis espirituais. Sinto a ruptura entre minhas costas e a realidade. Despeço-me do poder, desisto do céu. Desejo o que é impossível, imensurável, o que não se pode encontrar em revistas, anúncios ou bocas limpas. Desejo o imprevisível, a solidão que preenche. A que toma goles de pertinência, arrasta a hipocrisia para um lugar onde se pode ser verme. Para ser podre basta se enxergar com os olhos da podridão.’
A rotina sombria levantava, seu banho exatamente no mesmo horário, a saudade apertava de quando em quando. E sabia que jamais poderia ter. Seus pensamentos eram sua anarquia, a forma que encontrara para não sucumbir ao desastre existencial em que se encontrava.
‘ E por seu sorriso eu viajaria mundos, oceanos, outros reinos. Uma distância em que poderia ser nada se não fosse a eternidade estabelecida por convenções. Abandono as palavras. São insuficientes e estou fraca para lembrar todas que seriam necessárias. Estou exatamente onde me perdi, longe de mim e longe de você. Sou a estrela que não encontrou a imensidão, a esperança de tempos prósperos, quebrada.’
Regou sua roseira. Abriu a porta com sua maquiagem feita, a bolsa preta e o coração queimado. Trancou. Saiu. E os pensamentos...

sábado, 19 de novembro de 2011

O tempo e a rosa

De tempos em tempos percorria os olhos pelo relógio, buscando respostas às rogativas que saberia não encontrar em um simulador de tempo. Contava as frases, as palavras, as letras; o que estivesse ao seu alcance. Perdera-se em um viés sombrio da necessidade de pertencer a algum lugar que jamais soubera onde fora. Perdera-se na ilusão da felicidade compartilhada e dos anos que o tornavam menos jovem. Estava submerso em uma solidão solicitada: vislumbrava o futuro e sequer vivenciava o presente.
E já não sei para onde vou, se serei de alguém,
Apenas sei,
Que de mim sou,
E de mais ninguém.
Seu espelho refletia suas lembranças colocadas em um arquivo morto, despejadas sob sua máscara terrena para que vivesse as agúrias dos seus sentimentos.
Cada dia era um pesar, e seu corpo tomava formas menos volumosas ante tal sofrimento. Dizia amar bela mulher, mas se distanciava do amor por ele. Esperava pelas mudanças, mas mudança em si não era.
Trouxe a ele a flor, a palavra que pensei poder transformar seu sofrimento. Porém, o relógio continuava lá. A angústia lacerante, a mulher amada; também. Plantei-a e dia a dia rego para que cresça com vitalidade e esperança em seu coração.

Foi o tempo que perdeste com tua rosa que fez tua rosa tão importante” 
(O Pequeno Príncipe)
Antoine de Saint-Exupéry

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

O mal inte(i)r(n)o

Pa la vra fragmentada,
Som estremecido, garganta obnublada
Sussurro (alto), pesar intenso
Aos passos do vento,
Pressentimento, v(a)ga.

Milhas de sombras,
C-a-ta-r-s-e necessária,
Semblante estático sob o mar vagaroso.
(Preso) em sua (represália),
Estreme-cer é tempo.

Ch u u va viva,
Sonho (encapsulado).
O vazio se sobressai e finge estar acompanhado.

Alma preponderante,
Mono mono lógo instalado.

Deixaste para trás, des pre parado,
Sem título, sub titulado de emoções.

C(atar)-se aos pedaços,
Subjetividade des-pedaçada.
Vidros sujos,
Aos olhos fracos, oprimidos.

O mal inte(i)r(n)o.